Silvam, então, na ânsia dos sentimentos um resolução, infortunada, contudo, a mais plausível. Desde então, no umbral do terreno passional, um grito. Um grito? sim um grito, um silvo desesperado de remorso e consternação, que afetou a psique o amante.
Avistou-a então, sob o palio lunar, o anjo. Que como um fulgente raio desaparece. Grita então o amante:

-Sinto em dizer, contudo, me é extenuante, de tal forma, ver-te tangida por outras falanges... Sinto me em torpor mesquinho e febril, entretanto, é me tão consuetudinário agora que em todo o tempo as imagens são ininterruptas...

Nada ouve em resposta. O silêncio lhe corrompe. Grita.

- ...

Novamente nada ouve. Então entre um alvoroço e um ardor. Grita:

-Oh! deus... Não sabes da algia um simples coloquios, uma irrisória parcela... Predizendo d'um ruidoso destino, onde remoto me sinto perto, contiguo me sinto distante...

Silêncio.
- ...

Grita, já sem esperança:

-Depreciativo é o prelúdio do ardor frugal que me, agora, abranda... Ameno como um vulcão em atividade... Proscrito por maldizentes solilóquios...

Silêncio.
- ...

Por fim, em última tentativa, grita:

-Sou eu embevecido em teus singelos e feéricos traços...

Silêncio.
- ...

Silêncio.
silêncio.

Consumiu, então, o silêncio ao amante. De desilusão afronta-se e extirpa para fora o coração como forma final de demonstrar o amor...

Sem resposta, sabe que o amor, único amor, foi perdido, e não tem, como sempre soube, nenhuma chance de retornar ao estado de cume do amor próprio...

Aos desesperos sae. Cabisbaixo vês sumir o que um dia foi amor. Ao longe vê que poderia ir longe, tão mais longe, que ainda estaria ali a espera de uma única palavra, uma única letra. Desesperançoso. Diluido pela ferina dor. Sem esperança. Voa, voa, voa até o infinito, o tempo lhe esvai. As asas, em plumas, vão dessecando. Encontrou então, sob um impacto, a luz que lhe deu nova VIDA.

_______________Subiu..
________Subiu..
_Subiu..
__!
Sucumbiu!
Sem mais sinal de amor algum... Só de amenidade...

Com que rispidez vi-a olhar-me...

- Se sente bem?
(perguntei-lhe, para não demonstrar minha lamúria por aquela visão).

- Não poderia estar melhor.
(respondeu-me ela, direcionando seus castanhos olhos e fitando os meus como se os fosse engolir).

Pensei, então por alguns milésimos de segundo, como poderia ela ser tão forte ao ponto sorrir. Então ela antecipou-me.

- Nós somos espelhos. Eu vejo em ti minha alma e você em mim sua perdição.

Aquilo soou a ele como um epitáfio. Mas ela continuava a sorrir... Os lábios tão docemente abertos, deixavam à mostra um sorriso que variava de melanciolia a uma felicidade (ao ponto que não se podia mediar nem um nem outro)...

- De que adiantaria travar lutas? nem mesmo sei pelo que devemos lutar....

Com isso ela ia saindo...

- Sorria sempre, disse ele, mas sorria com o furor da alma... para que vosso sorriso seja o motivo dos sorrisos alheios, não de vosso desepero.

E ambos sairam... Ela em busca de seu sorriso sincero, e ele a procura de prazer. Nunca mais se viram... depois daquele primeiro-último anormal na rua esperança, sem número.

Se enganam os que pensam que poderiam extrair de mim estórias com finais felizes. Mas se quiserem (opção sua) podem imaginar seus finais, apenas não leiam os meus, pois nunca serei menos nefasto e cruel. Não venho acender chamas apagadas. Venho mostar como terminam as chamas já acesas. E certifico-lhes que sempre acabará em águas sujas de um rubro líquido.
(...)
Nem tudo é como esperamos que fosse, mas é bem mais feio quando se procura o fundo das coisas. E acredite tudo termina em tragédia. É a lei natural mais antiga do mundo. Ou seja a Lei do começo e fim.
(...)
Portanto, quem espera ver flores, irão encontrar aqui. Contudo não pensem que serão quaisquer flores. E nem que serão depositadas a qualquer pessoa ou lugar.
(...)
Olhe em meus olhos. Veja se consegue distinguir a realidade da não realidade. A profundide dos sentimentos elevam os seres, ou os deixam (os seres) à beira do precípicio. O amor é majestoso, mas também é cruel. Isso vai depender unicamente do que você quer ou aceita ver. Lhes oferto algumas verdades (sem nenhum caráter absoluto), mas que poderão fazer com que sinta o odor putrido que os poros infectados pela passionalidade exala.
(...)
Escolheria um lugar melhor para começar minha estórias, mas acredito que o cimetério municipal é o lugar mais amável e passifista que existe. Lá estão os restos de amor, de paz, de guerra, de solidão, de todos os sentimentos que existem. Encontraremos o que quisermos em cimitérios, basta procurar.
(...)
Vocês podem abandorar este texto agora ou se juntarem a mim. A escolha é vossa.
Beijos! (Escrito no original com sangue)
(...)
- Esse trecho é a introdução livro?
- Não. É a parte do que me faz viver. É o meu sangue e minha alma.
- É um tanto apavorador.
- Não se assuste. Mas também não pense que terá uma estória de amor convencional.
- É de se imaginar que não será uma estória de amor, mas tem ao menos um final feliz?
- Não estou pronto para escrever estórias com finais felizes. Sou escritor das rosas negras do mundo, das rosas da morte!
- Então porque persiste em pensar nesta estórias de amor?
- Quem procura estórias de amor em livros ou em contos, é porque sua vida não lhe proporciona isto. Eu sou parte fragmentada de amores rompidos, de corações em pedaços, de enforcamentos nos banheiros de hoteis de luxo... De assassinatos passionais. Sou escrito do lado negro.
- O amor nos livros é mais amplo e mais mágico.
- E quem necessita de fantasia? Se procuras fantasias, encontra-las-á nos ácidos ou nas químicas ilícitas. Não em livros romanescos. Enfim, nada mais quero conversar, por favor.
- Só mais uma pergunta.
- Que seja.
- O livro terminará em tragédia, mas isso não é convencional?
- Espere e veja, a tragédia será a publicidade do livro.

(...)

Eu poderia lhes oferecer o amor puro, casto e melancólico das músicas, mas o que isso nos acresceria? Em termos poderiamos sentir-nos menos mal por acreditar que outros já estiveram piores que nós, entretanto esta sensação se esvairia tão rápido quanto chegou.
(...)
Meu sangue está em todo o piso branco do quarto. Meus pensamentos estão em toda parte, e eu onde estou? Ninguém sabe. Desde que o amor se foi... a alma não respira. É como se extraissem o oxigênio da composição da água, ou o reflexo do espelho.
(...)
Ninguém regressa são de um grande amor perdido. É natural que não haja uma superação total. Os químicos e médicos poderiam dizer que tudo não passa de reações fisiológicas ou químicas, mas não é isto para quem sente. É o fim.
(...)
Já estou na quadragésima página e ainda não tenho o mínimo interesse em saber o que me tem passado. Nem se é dia ou noite, tudo se foi. E agora só resta uma lápide com uma imagem em sua fronte, com dizeres gentis.
(...)
Estou me esvaindo junto às páginas. E não poderei dizer se tenho sangue suficiente para terminar este livro. Estou pálido, tal qual o amor que hábita minha alma, ambos sem sangue. Sem o líquido que dá vida.
(...)
Meu tempo está acabando. Em minha ampuleta não resta muito de areia, nem em meu corpo sangue. Todavia, em meu peito existe amor para completar milhões de páginas. Um amor corrompido e incompleto. Um amor sem reflexo.
(...)
Contar-lhes-ei, o que é o amor: Um dia você acorda. Faz as higiênes diárias. Saí. Então o tal amor lhe bate a porta, você o deixa entrar e ocupar o que quiser. As coisas se tornam insensatas, mas tudo no amor é assim. Então você se torna o amor. Você come, dorme e vive isso. Espera morrer antes, para que morra amado. Por fim, o amor que já lhe consumiu todo é extraído brutalmente pela morte... E você só consegue se lembrar das rosas sobre o sepulcro. Das lágrimas de sangue. E do odor de sua amada. Tudo que foi vida, não faz mais sentido. Você precisa da morte. Precisa encontrar o fim do sofrimento e o ínicio da paz.
(...)
Talvez achem que é loucura, eu não importo. Quando sentirem que o amor deu ínicio a sua vida, entenderão também que com a morte dele você também morre.
(...)
Cheguei ao meu límite, não tenho mais forças para continuar. Que este seja meu testamento, meu testamento de amor, lavrado a sangue e a vida. E saibam que se ela um dia ouvir minhas preces, minhas palavras de solidão e desespero aqui depositadas em inúmeras páginas, estarei esperando-a na única prisão da qual nunca se saí.
(...)
Com as últimas gotas de sangue e vida, deixo meus sentimentos esculpidos em papel. E parte de minha alma colada às palavras com parte de meu corpo.
Eternamente te amarei.

(...)

Notícia publicada no jornal da vida.

Quando um homem que muito amou lavrou seu testamento sentimental à sangue. Este homem, que nunca será identificado, extraiu cada gota de sangue do seu corpo para demonstrar o amor que tinha por uma mulher. Morreu junto ao seu testamento. Junto à sua confissão. Junto aos pápeis de sua entrevista a si mesmo.

Talvez nunca saberemos o que realmente é o amor. Mas podemos concluir, meus caros, que ele às vezes nos leva à morte.

Em sua lápide no cemitério municipal, ele pediu que escrevessem: "Aos que pensam que estou morto, enganaram-se. Pois minha vida acaba de começar".

Meses depois ondas de suícidio cubriram uma pequena cidade do interior de algum lugar da terra. Fatalidade ou não o livro do amor perdido (também conhecido como livro da morte, chamado assim em função dos inúmeros casos de suícidio causados pela leitura) é o maior best-seller, jamais visto.

Na lápide ainda continha a seguinte mensagem: "só podem morrer aqueles que já aprenderam a viver, quanto ao resto apenas retornaram ao estado primitivo, portanto, não me dêem os créditos pela morte, mas por mostrar onde começa a vida"

Ninguém sabe, contudo, o que aconteceu à mulher amada pelo escritor. Destino ou não, por causa desta estória o escritor vai ser lembrado para sempre. Desconhecido em vida, mas muito lembrado pós-morte. Coisas da vida.

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