As pontas dos meus dedos estão gélidas, nenhuma novidade, era de se esperar que estivessem, só retratam o que meu corpo insiste em esconder aos olhos menos atentos, eu morri. Ao menos por dentro, eu morri, minha alma morreu, se é que isso é possível, dizem que almas são eternas e vivem depois que um corpo morre, mas no meu caso é o contrario, o corpo vive com uma alma morta, seria então meu corpo eterno? Espero que não, sinceramente espero que não, não gostaria de ter esse suplício eternamente, mas talvez seja inevitável, sentir para sempre as pontas dos dedos frias como a minha alma morta.Acendo um cigarro, tentado aquecer o resto do corpo com a fumaça morna, enegrecendo meus pulmões enquanto meus olhos se acostumam a escuridão ao meu redor, sim está escuro e eu ainda escrevo, a tela do computador é a única luz, tanto por fora como por dentro, sim tudo em mim escureceu, o cenário ideal para um velório, é ironicamente engraçado estar presente no meu próprio velório, meu cigarro seria minha vela então, uma vela póstuma para um morto que ainda não morreu. Como o destino é sarcástico não, usar algo que vai matar meu corpo para celebrar a morte de uma alma, ainda mais sendo essa a minha alma.Assim sepulto meu falecido espírito nesse monte de carne ao qual chamo corpo, e que estas palavras sejam meu epitáfio, sejam um testemunho póstumo de uma alma que deixou de viver antes de seu próprio dono, e que um dia o meu corpo decida por acompanhar minha alma, e assim não só a ponta dos meus dedos vão estar gélidas, como também meu coração que enfim vai parar de bater.

era arriscar por aquelas veredas e sentia arrastar-se por uma avalanche.
Lá ia escorrendo aquilo que entendia o seu ser mais íntimo.
... e expunha-se ao frio, despindo-se da identificação, tendo os pés congelados de estranhamento naquele solo desconhecido e hostil.
Havia as rotas que traçava entre um instante e outro de sua desatenção...
... não com o que estava em sua órbita, mas daquilo que levava consigo, tão apegado, inerente,
que fluía mesclado ao sopro de vida... Esse aí alimentava, mas as vezes inventava de sufocar como um carrasco, afirmando sua força e só em lapsos permitindo um suspiro leve por conta-sopro, para que apenas suspeitasse um prazer no contraste...

-ó dia! Quanto me faz dar de mim!!!
Disse olhando para o céu!!! Aparentava seus 25 anos. Tinha um rosto gravado pelos maus tratos da vida marginal!
-Que te fiz ó santidade! Fui a ti mal homem? Apresentei colera a vossos desejos? Desdenhei de vossa sapiência? Diga-me, Diga-me, Diga-me, que lhe fiz para merecer tão desegradável vida?
Desempenhei a vida louvar-te! Fui teu defensor por todo meu caminho! Calei a boca daqueles que lhe injuriavam! Salvei vidas! Fui um ótimo pai! Um bom marido!

As lagrimas descem sobre sua face.

-Fiz de mim um carola para dar minha alma a ti.... E assim que me agradeces? Fui tão mais honesto a ti que a mim mesmo! Dei minha vida em tuas mãos, e assim que me retribui!

Em prantos... Sob um dia ameno, sob uma temperatura agradável.... Um sol que dava esplendor ao céu, e cobria-lho de uma lumidade fatidica.

-Faleis, ó santidade, se fui para ti, em qualquer momento, um pulha... Se lhe dei a costa como muitos fizeram.... Clemência, nunca esperei, sim reconhecimento pelo sague e cicatrizes que lhe ofertei, sempre de joelhos e agradecido por dar-me oportunidade de demonstrar minha fé em vossa sapiência.

Olhava ainda mais atonitamente ao céu, procurando encontrar resposta a tamanho infortunio.

-Fala-me porque mereço tal infausto? Fala-me!

Após estas últimas palavras! Levou um tiro na testa e caiu dentro de sua tumba, no cemitério da Boa Viagem!, sem vida com um ar de tristeza nos olhos e de insatisfação por estar frente a morte...

Respondeu-lhe o homem:
-Porque foi um bom moço por toda sua vida!... Enterrem-lô.
Olhou o defunto, beijou seu crucifixo, fez o sinal da cruz e saiu!

Caminhou apressadamente, até que não pudesse prosseguir em função de uma poça.
Havia dias que a chuva não cessava e sentiu-se irritado em ter que sujar seus pés na lama.
Por um instante, viu a lua refletida e sentou-se ali a contemplar com o espírito cheio de leveza.
Não mais se identificava com a ânsia da caminhada.

-Amanhã.

Disse ele ao ver seu único Devedor se aproximar. Sem dar mais explicações saiu todo aborrecido, como se o céu estivesse sob suas costas...

-Só mais um dia.

Gritou-lhe o devedor, já não mais aguentando aquela situação.

Eram amigos em outras épocas, viviam a rir um do outro, a confidenciar-se um com o outro.... Mas a amizade acabou! e acabou por causa de uma dívida de aposta....

Era uma sexta-feira, fria diga-se de passagem, ambos combinaram de se econtrar no bar do seu mané para tomarem uma dose de conhaque e baterem um papo sobre a vida...

Zélino, casado, pai de um filho de dois anos, conhecia Hector desde de moço quando ainda frequentava a escola....

Eram como unha e carne, viviam juntos, iam a todos os cantos juntos.... Chegaram até a desconfiar da amizade.... Zélino, aos seus 25 anos conheceu Linda, uma moça ardente, de uns olhos fulgurante azuis, e d'um ciúme incurável, com quem casou-se após 3 meses de namoro.

Isso foi um pesar para Hector que tinha apenas zélino como amigo nas redomas. Um belo dia quando zélino aparece hector o chama para tomarem algo no bar do mané.... Ficaram até altas horas conversando... falaram sobre a vida, sobre o trabalho, relembraram os velhos tempos de menino...

Zélino despediu-se e marcou para que se encontrassem na outra semana para outro papo...

Depois disso encontravam-se sempre para um papo ou um joguinho de cartas... E foi justamente num joguinho de cartas que a vida de ambos mudaria....

Eles adoravam apostar, certa vez jogando e como o jogo já estava sem graça resolveram apostar, para dar mais animo...

-Então, disse zélino, joguemos apostado.

-Concordo. Nada melhor que apostar para apimentar a mesa.

-Jogaremos Poker Texas Hold, aceita?

-Certamente. Tenho tecnica e sorte neste jogo.

-Faremos então, propôs zélino, aposta negra!

-Aposta Negra?

-Sim Aposta Negra.

-Mas....

-Sem mas Hector. Seja homem ao menos uma vez em sua vida!

-Que seja então.

-Joguemos então....

Calaram-se ambos e começeu a partida mais disputada que já se ouvira falar em um jogo de poker.... Duraram dias jogando... Cada mão era meticulasamente pensada!

Ao fim do terceiro dia de jogo tinha-se um vencedor.... Hector...

-Hector, disse Zélino, parabéns. Vá agora e busque seu premio.

Hector desajeitado tenta contornar...

-Deixa disso Zélino tú é amigo meu....

-Aposta é aposta.

-Então deixemos para amanhã... ademais estou indisposto, jogamos alguns dias... E mal aparentável...

-Que seja então...

Sairam. No outro dia Hector encontra-se com Zélino...

-E então Hector?

-Como vai? Eu um tanto ocupado, mas amanhã certamente que vou!

Hector saiu rapidamente....

Já se tinha passado três dias da aposta.... Zélino encontra novamente Hector...

-Amanhã.

Disse ele ao ver seu único Devedor se aproximar. Sem dar mais explicações saiu todo aborrecido, como se o céu estivesse sob suas costas...

-Só mais um dia.

Gritou-lhe o devedor, já não mais aguentando aquela situação.

-Só mais um dia! Senão aparecer te busco ouviu? E não me faça de tolo... Aposta é aposta...

No outro dia Hector todo receoso encontrou-se com Zélino...

-E então pronto? (perguntou-lhe Zélino)

-Certamente...

-Então vá e acabe com isso.

Hector saiu em busca do prêmio da aposta negra.

-Olá...

Disse Hector ao chegar ao lugar onde receberia o prêmio...

-Quem é o senhor?

-Deram-me esse endereço para que eu viesse receber meu prêmio da aposta negra....

-Que diabos de aposta negra é essa que não estou sabendo...

-Não sabes? conheces o senhor Zélino?

-Sim. Porquê?

-Foi com ele que apostei!

-Mas é aposta negra... Aposta negra é a pior aposta que existe num jogo de cartas... é um duelo, quem perde uma aposta negra perde sua mulher para o outro....

-Mas como?

-Desculpe senhora, até falei para ele esquecer isso... mas ele é cabeça dura!

-Que seja então!

E despiu-se... Hector, embasbacado com a beleza radiante de linda, a toma em seus braço e a beija... Deita-a na cama.... E então começam a fazer amor!

-Não é por isso que ela é a aposta negra, meu caro, disse Zélino. É porque o prazer acompanha a morte....

E dá dois tiros, um em cada cabeça.... Joga então uma rosa negra, simbolo da traição, sob o sangue, saí sorridente e feliz, por estar novamente livre, livre do seu ciúme doentio.....

Lá pelas tantas da noite.

- Que pensas?
- Ora óh rapaz, como se atreve a ter tamanho desrespeito?
-Desrespeito? Com sois tú para dizer de respeito?
- Não me encha com tuas malditosas perversões mentais, nada tenho a lhe dizer... E nem vós a mim. Portanto, não seja tolo a ponto de ficar me aborecendo. Pois, caso o faça....
- Caso o faça o que fará?
Então já saindo tem seu braço segurado pelo homem, alto, robusto, vivaz....
- Deixa-me ir. Não gostaria que esta noite torna se me pior que já está sendo.
- Ora seu pulha!
As palavras quase foram tiradas da boca do homem, pelo soco que levou. Dois de seus dentes frontais cairam perto a uma mesa.
Outros ocupante do bar olharam o ocorrido com temor, e logo ficaram em guarda receando uma briga.
- Olha não gostaria de ter feito-lhe isso. Entretanto existe duas coisas no homem que o impulsionam - disse ele agachado quase encostado ao ouvido do outro - a primeira é a honra, a segunda orgulho. Qualquer homem mata, por quaisquer das duas.
Já ia saindo, quando o outro levantou-se e atingiu-lo na cabeça com uma cadeira de madeira.
- Não seja um cobarde. Enfrenta-me.
- Não poderia nem que quisesse.
- Então matar-te-ei.
- Então o faça.
E homem, ante a inercia do outro, pôs-se a correr.
Ao atravessar a rua deu de frente com um caminhão, que lhe atropelou fatalmente.
Caido ao chão sob seu próprio mar de sangue, chamou o homem com o qual havia brigado. Puxou-o para perto.
- Eu te amo - disse ele.
- Que estória é está ficaste louco?
- Eu te amo.
- Estas todo ferido não durará muito. Quer deixar um ultimo recado a alguém.
- Quero duas coisa: primeiro dizer novamente que só me apresentei aqui por sua causa e por te amar.
O sangue lavou a rua. Já havia muita gente cercando ambos. Saia sangue do ouvido do nariz, do ouvido, da boca.
- Fale! Clamo para que fale, não tardará a morrer pobre homem.
- Antes de morrer tem que saber meu nome.
Ele se espantou. O homem deitado começou a tossir fortemente.
- Chamo-me Athos Fillimann, diga isso a meu filho, diga a ele (hoc hoc) eu te amo.
- Quê?
O homem teve uma convulsão. Então seus olhos ofuscaram.
- Óh! DEUS. Porquê? Porquê? Porquê tamanha tragédia em minha vida?
Todos o olhavam.
Ele um pobre homem que passou a vida a procurar o pai. No dia do encontro, o perde por orgulho...

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