- Estafado. Sim esfafado.

Disse a si mesmo.

Já não se sentia só, pensava, pois a solidão já o acompanhava a tanto tempo que virou dela amigo. E sem ela, talvez, não saberia viver. Tudo quanto a vida lhe dava era pavor da sociedade. A evolução, d-evolução, r-evolução, o que era isso? nada, pensava consigo, já que para ele o mundo era ele mesmo e a solidão que lhe davas as mãos.

Estava cansado. Enfermo. Solitário. Esquisito, nos olhos alheios. Mas o mundo não podia ter sido mais cruel com este homem. E ele sempre soube da crueldade com que o mundo lhe tratava...
Vivia já a muito nas ruas. Banhos, só quando a chuva lhe proporcionava... E não lhes digo que era por vontade que ele os tomava... Gostava mesmo daquele estado, uma vez que assim evitava muito mais contato humano.

Pensava as vezes se lembrava como era falar. Entrava em dúvida se algum dia soube falar, pois poucas foram as vezes que um som saiu de sua boca... E nada poderia ser mais fausto a ele que isto. Falar é ser humano, e ele sentia-se muito pior quando se via como um humano. Pensava que a humanidade era pior que a animalidade, uma vez que nem os animais se depreciavam e se matavam tanto e por nada.

- Cheguei ao fim.
Disse um dia, em pensamento.

Sabe-se Deus o que isso queria dizer. Uma vez que para qualquer outra a situação dele já era o fim. Mas para ela não restou outra alternativa, senão dar cabo a vida.

Ele havia se tornado muito mais animalizado do que esperara se tornar... E como animal não poderia viver muito tempo. Sentia, como animal, o desprezo, o egoísmo, e a falta de sensibilidade dos seres.

Dirigiu-se ao topo de um prédio abandonado. No topo pensou em ser ave e voar até o chão. Mas para ele as aves eram as Imperatrizes. Pensou em um animal, mas nada lhe veio a mente. Então pensou no pior animal do mundo. O humano.

Olhou para baixo.. Desistiu. Disse a si mesmo que o ser humano é um animal tão desprezível que não merece nem a morte, e sim o sofrimento. Mudou os hábitos e a vida... nunca mais foi visto sujo...

Não foi um conquistador quando jovem, mas nunca desistia, chegava ser chato. Não era um homem muito aparentado, mas sempre tinha seus rolos. Dia após dia tinha suas escapadas, saia do serviço encostava-se no bar para beber e conversar fiado. Gostava de ficar paparicando as moças, sem muita ousadia.

- Eu, dizia ele, não me caso... Não sou homem de uma mulher só.
- Mas vê se deixa de besteira! E quem lhe disse que casamento é sinônimo de celibato?
- De qualquer forma não quero me casar! Dá-me ânsia imaginar que terei que conviver com apenas uma mulher... Não imagino-me chegando em casa e vendo uma mulher assistindo televisão enquanto as panelas estão no fogo...
- Não seja parvo... Este é o lado bom das coisas, ruim mesmo é quando ela começa a furtar-te de ver os amigos, de sair para tomar umas, não deixa sair para jogar futebol...
- Em todo caso casamento só é bom para os pais da noiva...

Caíram então na risada, e não era de tudo mentira.

- Mas eu me lembro da Lucinha, você dizia que com ela casava, no tempo da faculdade.
- A Lucinha, com ela até me casava mesmo! Mas depois dela não existiu mais nenhuma, só camas, lençóis e até outro dia...
- Não sou casado, mas pretendo. Tenho minha noiva e vivemos bem... E ainda por cima tenho minhas saídas... Seja agora, seja depois de casado, não desperdiçarei nenhum momento da minha vida... Se Deus nos deu o sexo, então dele vou aproveitar até esteja sem vida.
- É assim que seja fala. E vida o sexo!!!
- Voltando ao assunto da Lucinha, sabe que eu tinha um desejo enorme de beijá-la. Era até mesmo estranho. Nunca fui tímido, mas com Lucinha não sabia lidar. Vinha algum tipo de receio. Certa vez a toquei na mão foi algo inexplicável... E a Lucinha sempre foi um espetáculo de mulher, seja no quesito inteligência, seja quesito beleza ou no simpatia. Depois da faculdade não mais a vi... Será que ela casou-se?
- É provável. Todos sabiam que o sonho dela era vestir véu e grinalda.
- Lucinha. Tempos bons aqueles.

Ficou a imaginar o que Lucinha poderia estar fazendo. Veio a mente uma Senhora de corpo divino, Loura, olhos tão azuis quanto o mar. Um vestido que desfilava em seu corpo. A boca levemente amanteigada com um brilho. Sombra nos olhos. Uma maquiagem sutil e glamourosa.....

- Ei. Está longe meu rapaz.
- Nada demais, apenas um devaneio.
- O que fará hoje?
- Vou me encontrar com umas amigas...
- Amanhã outro chopp aqui?
- Certo. Amanhã, aqui mesmo.
- Até logo. Minha noiva deve estar furiosa, já estou a mais de uma hora de atraso.
- Abraço.
- Abraço.

Ficou sentado um pouco mais. Fechou a conta e saiu. Quando sai na porta depara-se com Lucinha. O rosto era inconfundível. Ele não podia acreditar no que estava vendo.

Ela sentou-se numa mesa, estava desacompanhada. Ele então se sentou novamente, numa mesa ao lado da dela. Pensou em algum assunto para falar, mas tudo lhe fugia a mente. Decidiu, então, oferecer um drink à bela moça.

- Garçom.
- Pois não?
- Ofereça um drink àquela moça, sob meus cumprimentos, por favor.
- Algum em especial?
- Ela freqüenta o ambiente?
- Só nas sextas feiras.
- O que ela costuma beber?
- Martine.
- Então lhe sirva Martine.
- Como quiser. Mais alguma coisa?
- Por favor, traga um Uísque com gelo para mim, por favor.

Saiu o garçom, pouco depois tinha servido à dama. E referenciou as recomendações feitas pelo cliente. Lucinha cochichou algo, que não pode ouvir.

- Ela convidou o senhor para sentar-se com ela.
- Agradecido.

Levantou-se, e pegou seu uísque e então se sentou com a dama.

- Muito prazer, Fernando. Fernando Bastos.
- Lucia, muito prazer.

Conversaram por longas horas, a noite já tardava e então ele tomando nota que já estava muito tarde, despediu-se dela. Pediu, contudo, o telefone dela, o que ela o negou. Dizendo que se a quisesse ver novamente, que a encontrasse neste mesmo lugar no próximo dia. Então ficara combinado, no outro dia.

Fora embora, com a sensação de que não mais veria Lucinha. Ficou imaginando o que lhe aconteceria se a tivesse beijado, um tapa talvez? Imaginou que poderia ter sido sua única chance.

No outro dia dirigiu-se ansioso ao lugar combinado... Tardou, mas Lucia chegou... ficaram papeando noite adentro... E assim se sucedeu por mais alguns dias. Até que ele decidiu que teria que mudar a investida. Mudaria a tática, pois não perderia a oportunidade de ficar com Lúcia desta vez. O que era estranho que as conversas nunca tinha cunho pessoal, sempre que Fernando tentava adentrar numa conversa mais pessoal, Lucia mudava o rumo das conversas.

Passaram-se meses. Então um belo dia, vendo que a mulher continuava impassível, resolveu pedir o beijo que tanto pretendia. Então o fez.

- Se lhe pedir algo me concede?
- Depende de sua pretensão.
- Não como dizer, mas sinto-me a cada dia mais e mais atraído pela vossa pessoa. E vossos lábios já são partes integrantes de meus sonhos costumeiros. Durmo a pensar em vossa boca e em sonho sinto vossos lábios tocarem os meus. É um desejo incontrolável.
- Não lhe negarei o beijo, contudo, não é esta a hora certa para o tal. E fique sabendo que meu desejo é maior em proporção e profundidade que o vosso.

Ao ouvir aquilo, Fernando, arrepiou-se inteiro. Não queria nada mais dizer, apenas esperar que os lábios daquela moça tocassem os dele. Permaneceram por mais alguns dias sem falar no assunto.

Fernando havia esquecido os amigos. Encontrava-se sempre com Lucia no mesmo lugar, na mesma hora. Um dia não suportando mais suplicou-lhe de joelhos um beijos, mas de nada adiantou, pois Lucia parecia impassível, e dizia sempre a mesma coisa. Fernando havia se esquecido até das outras mulheres, não saia com mais nenhuma... Sua vida transformou-se numa rotina...

O beijo começou a deixá-lo louco. Não podia ver ninguém se beijar que sentia uma ardência nos lábios, e o fato de ter que esperar já estava o deixando com os nervos a flor da pelo. Encontrou-se então um de seus amigos.

- O que lhe aconteceu? Não mais o vi.
- Nada estou apenas resolvendo uns assuntos pendentes.
- Qualquer coisa me liga para tomarmos um chopp.
- Pode deixar.

Sai às pressas e foi encontrar-se com Lúcia, estava decidido hoje o beijos teria que sair, e ele não sabia, mas Lúcia tinha escolhido este dia, também, para beija-lo.

Distraído começou a andar pela cidade em direção ao lugar, costumeiro do encontro. Pela calçada acabava por abalroar os transeuntes que por ali trafegavam, todavia ele nem sentia tais confrontos...

Quando então fora atravessar a rua vira Lucia, sentiu um ardor lancinante, mirou-a nos lábios e sem prestar atenção na avenida atravessou percebendo única e exclusivamente aquela boca, que o consumia. A boca que era dona de todo o seu tempo... Os lábios que lhe remoeram os dias por tanto tempo... Fixou-se nos lábios e ia atravessando a rua... Um caminhão em alta velocidade vinha em sua direção, entretanto ele não o percebeu, mas Lúcia sim, pois ela gritava com um furor, que aparentava querer estourar as cordas vocais.

Lucia só pode ver o choque... Fernando que estava perdido naqueles lábios, donos de seu mais intimo desejo, nem sentiu a colisão... Pensou, justo nesta hora, que estava beijando a boca de Lúcia...

Deitado, sem vida... Em meio ao tumulto aparece Lúcia, aos gritos... Ela então agarra Fernando, inerte, entre seus braços e começar a beijá-lo, nos lábios... Com uma vontade quase criminosa... Quem via a cena sentia até um nojo, uma vez que Lúcia estava agarrada a um corpo feito de sangue, todo deformado.

Percebeu então Lúcia, quando olho a boca dele, que havia um biquinho... E ela sabia que o que ele esperava era um único beijo...

- Leve, Fernando, meu único amor... Os beijos que tanto lhe neguei. Negados para provar o amor que sempre esperei encontrar.

Olhou para o céu. Seus olhos demonstravam uma tristeza eterna. Uma mágoa para consigo que não poderia ser descrita por aquela feição de desilusão. Suas lagrimas fulgiam a dor que seu coração guardava.

A água salgada abalroava a praia solitária. A luz solar tangia as conchas espalhadas pela areia lisa. O lume fora sugado pelo desejo de companhia daquelas esquecidas peças da natureza.

Muito da morte ali se via. Ainda olhava ao céu, claro de níveas nuvens baixas. O azul dava contraste ao vermelho que sobressaltava dos poros do ser solitário.

Apenas seus passos. Apenas seus passos lhe faziam companhia. O vento lhe tangia a face, à medida que seus passos aceleravam. Aceleravam. Dilaceravam.

- Angel - disse. Mas nada de sua boca saiu. Sequer uma palavra, uma letra. Acelerou, esperando ser consumido por suas palavras, por suas lembranças. A água podia ser sentida por seus pés, fria e adocicada pelo desejo de união.
O céu refletia em seus escuros óculos, que escondiam uns olhos vermelhos, lacrimejantes, circundados por olheiras negras. Nenhuma pena. Nenhuma pena. Pena. Nenhuma pena do que quer que seja.

Sentiu-se oprimir. Todo o externo conspirava com o interno em para sua angústia. Só pode pensar no anjo. Aquele anjo. Único anjo.

Não insista. Devolva-me. Ele dizia a si. Nada, nem ninguém, poderia escutar sua voz silente.

Sem que pudesse perceber o anjo lhe aparece. Vestida em branco, suas asas lhe sopravam um vento à face. O anjo ofereceu-lhe então sua mão. Tudo se tornou ameno. Límpido.

O anjo estava a poucos metros dele. Seus louros traços cativavam. Seus lábios moviam-se pronunciando um canto. Um canto profundo e melancólico. Sua voz aguda e doce oferecia uma paz, uma liberdade indescritível.

Chamou-lhe o anjo. Ele que nunca havia vivido, tocou-lha mão. O anjo, lindo anjo a cantar, carregou sua alma até o céu. Subiram num sublime caminhar. Ele sentiu-se livre. Adquiriu as penas que a tanto buscou. Sentiu as penas de o anjo lhe tocar a pele. A cada toque sentia-se cada vez mais perto do céu.

Enquanto seu corpo caia do precipício, donde sempre estivera, sua alma subia imaculada e soberana ao encontro da paz.

Seus passos eram apagados, um a um, de memória da areia. A água salgada engolia os restos de sua efêmera estada.

Sua alma o doce anjo cuidava. Devolvendo ao solitário homem seu coração manchado de sangue. Apagando suas lembranças e seus amores.

O corpo já vazio era esperado por seu sepulcro. O vento gélido embalsamava-o, retirando dele os resquícios de vida que ali soprava.

Seu corpo se une, enfim, à costa rochosa. O sepulcro abraça-lhe. Um belo canto, o anjo sopra e entoa em sua harmoniosa harpa lírica fazendo acompanhamento assonante de amor ao rito finalista. A alma encontra a paz e corpo encontra o seu amor e o seu único anjo. O anjo da paz. O anjo da morte.

Junto à sua lápide deixou ele os dizeres, produzidos à mão:
(My love, forgive me for loving you forever!!!)

Naquele dia o tempo já não estava propício para sair de casa. Mas nem isso o segurou. Sentia que sempre poderia estar perdendo, ao se "entocar" demais, uma oportunidade, seja no amor nos negócios... em verdade passava ele mais tempo fora que dentro de casa... Pouco tempo dedicava a si mesmo. Gostava mesmo era de saber como estavam os outros, e se pudesse ajudar faria tudo para isso...

Neste dia, neste exato dia, um augúrio lhe dizia algo, da qual não percebeu se era para sair ou não de casa, se não bastasse o mal tempo que se fazia na cidade.

Como ele sempre foi oportunista acreditou que era uma mensagem que aquele era o dia de encontrar um grande amor ou fazer um ótimo negócio...

Que fosse por sorte ou não ele consegui mesmo um bom negócio aquele dia... Ele vendedor de seguros de vida, consegui vender aproximadamente 2000 mil apólices. Nunca alguém havia conseguido tal marca em apenas um dia. Ele mesmo nunca imaginou-se comprando um, achava besteira, dizia sempre:

- Eu não nasci para morrer cedo... E quando for minha hora já estarei mesmo à beira dos meus 100 anos.

Mas sempre lhe dizia uns de seus amigos..

- Para morrer basta estar-se preparado...

(com um ar todo sobrenatural, mas ninguém nunca quis saber o que “preparado” queria na realidade dizer)

Mas no final todos que o conheciam sabiam do seu pavor pela morte. Naquele dia para sua surpresa ao sair, via de passagem felicíssimo por seu sucesso no trabalho, do serviço, já se faziam oito horas da noite, ele ao contrário do costume foi com seus amigos a um lugar aconchegante da cidade para curti o dia de sorte que teve.... Foi como que um susto, ao entrar no ambiente viu, sentada à mesa, uma mulher, deslumbrante, vestida vermelho, não pode segurar-se... Sentiu-se incontrolavelmente atraído por ela... Foi então que decidiu falar com ela... Pediu a si um Martine e ofereceu-se a pagar a mulher uma bebida... Ela aceitou...

- Qual vosso nome?
Perguntou ele sem pestanejar...

- Chamo-me Aurora...
Falou ela abrindo um lindo e delicado sorriso.

Ele pode sentir ao ouvir aquela doce voz que o mundo é demasiado pequeno para o sentimento que o consumia.

- Você não me parece estranho «disse ela» creio já ter visto-vos. Como que se algo em mim me desse a impressão que temos uma ligação...

Ele se sobressaltou... Não esperava tanta química num primeiro encontro. Ele não soube responder-lhe. Ficou a olhá-la, como que se fosse um diamante altamente valioso e ele um joalheiro.

- Acreditas em amor a primeira vista? «perguntou ela, com um lacônico sorriso no rosto» Não me entenda mal, mas algo me diz que estou presa a ti ainda que possa ser muito estranho.

- Acredito «disse ele, quase que instantaneamente» acredito demasiadamente. Se nele não cresse talvez não viesse falar contigo agora. «ele não podia acreditar no que estava presenciando»

Conversaram, depois daquele estranhável começo, por horas e horas... Os amigos dele já haviam ido a tempos e ele perdido nas palavras de aurora nem viu o tempo passar. Quando deram por si a madrugada já floria e a lua já estava a adormecer para dar lugar ao sol. Saíram, pois o bar já estava a ponto de ser fechado... Decidiram andar a pé um pouco e aproveitar o lume de lua que ainda sublimava toda as paisagens daquela cidade campestre.

Sentaram-se num banco de madeira velha, ainda molhado pela chuva, que ficava numa praça toda povoada por arvores das mais distintas espécies. Haviam postes de luz na praça, um dos quais ficava justamente sobre o banco do qual estavam sentados. Um vento gélido soprava do horizonte dando um ar romântico a cena dos dois.

- Veja. (disse-lhe ela, apontando para o horizonte onde a lua sob um lume forte e argênteo aparentava um brilho esplendido. Lua esta que estava circundada por vários anéis de N's cores)
- O quê? (perguntou ele). Ela só não pode ser mais linda que vois.

Ela sorriu e ruborizou-se no mesmo momento. Os olhos se cruzaram e então ele a beijou. Perderam-se no tempo e no espaço. Pareciam que tudo estava perdido no único momento... Quando reabriram os olhos... O sol já havia aparecido, o arrebol estava maravilhoso e cativante. De mãos dadas saíram.

- Este dia foi o mais perfeito de meus anos de vida «ao dizer teve um flash, no qual ouviu seu amigo lhe dizer, - para se morrer basta estar preparado - e parecia a ele que estava mesmo preparado, mas deu de ombros» nunca fui tão feliz.

Ela sorriu e eles caminharam, sobre o chão ainda molhado.

- Tudo que é perfeito, maduro, deve morrer.«e retirou de uma arvore uma maça e deu a ela, com o qual ela agradeceu»
- O mundo poderia ser um dia ensolarado de amor «disse-lhe ela»
- E de intensidade eterna «completou ele»

Passaram por alguns comércios que já começavam a se abrir... Pararam alguns segundos para ver o nascer do sol... e saíram...

Foi quando despediram-se...

- Um último beijo? «pediu ela»
ele arrepiou-se todo...

-todos do mundo «respondeu ele»

Então beijaram-se... Em meio a luz solar que lhes dava um sabor de glamour.

E com um ultimo abraço e toques de mãos. Abandonaram-se.
Quando ela já havia virado a rua lembrou-se que não sabia o nome do tal fulano... Tal havia sido teu encantamento que não precisou dele.

Ele dirigiu-se a sua casa e ela a dela. Onde deitaram e dormiram e não acordaram jamais.

E sempre lhe recorriam este sonho, cada qual em seu sepulcro, após já há dez anos... Do dia em que ambos mataram-se, por amor... Envenenados, cada qual deitado em sua cama.

Dezessete anos apenas...essa é minha idade, sou jovem: bem, é o que dizem; mas sei que minha idade cronológica nessa existência não me é muito relevante, apenas sigo minha indubitável e imutável rotina...acordo, me arrumo e faço minhas servis atividades de bom moço....
Preciso de algo novo pra fazer, num belo dia resolvi mudar minha rotina, depois de acordar, tomar café, fui como de costume a minha escola.Lá chegando, tomei coragem e fui procurar Silvia, minha primeira paixão; alguns diriam que tardia, mas enumero-a como minha primeira pois ela foi a primeira por quem realmente tive algum verdadeiro interesse.Quando enfim cheguei próximo a ela disse:
__ oi Silvia tudo bem?
Ela me olhou de soslaio como se me visse pela primeira vez, e com um desinteresse mal disfarçado me respondeu:
__ oi!!! tudo...
Tendo minha expectativa inicial sufocada, lembrei-lhe quem eu era, disse -lhe que eu era o rapaz que sentava ao seu lado no ônibus; ela um pouco sem jeito me disse:
__ ah sim! você é o garoto quieto, que sempre esta lendo algo e ouvindo música...
__ Como se chama?
Minha respiração, se tornou ainda mais apressada, ela já havia me notado, o que eu diria a ela? minha apreensão me deixou sem fala, mas a sineta do início da aula me trouxe de volta ao mundo real.... ela se despediu e disse que teria que entrar na sua sala.
Me despedi com muita dificuldade, nauseado com o ocorrido.
Ela saiu em direção ao outro andar, onde era sua sala e eu fiquei a contempla-la se afastar, dando uns risinhos com suas amigas.
Segui seu exemplo e também fui a minha.
Como demorou para aquelas aulas terminarem, mas enfim tiveram seu término.Logo após ter tocado o último sinal, que nos liberava para irmos embora, corri apressadamente para o corredor, com um olhar atônito a busca-la, sem êxito; cabisbaixo me resignei e segui em direção a saída, tamanha foi minha surpresa ao me deparar com ela logo no portão, com seus materiais na mão e o cabelo que outrora esteve preso agora soltos a caírem sobre seus ombros a emoldurar tão bela e expressiva face, me olhou e riu, veio ao meu encontro e disse:
__ achei que já estivesse ido!!! talvez sua aula estivesse acabado mais cedo.
Um pouco surpreso lhe respondi que não.Tamanha foi minha surpresa que travei, fiquei plantado a encará-la, vislumbrando-a, ela, dessa vez foi quem me trouxe à tona, disse que já ia e pedi para acompanhá-la, ela disse que tudo bem.Seguimos rua abaixo conversando, ou melhor eu invariavelmente concordando ou discordando com meus simples monossílabos, chegamos ao ponto de ônibus. Continuamos próximos, ela já um pouco sem jeito por minha tamanha timidez, eu quase a ponto de ter uma parada cardíaca por estar pela primeira vez em minha vida diante de situação parecida, foi quando nosso ônibus chegou, ao entrar dei-lhe a preferência por embarcar primeiro, pra minha sorte haviam dois lugares vagos, sentei e ofereci-lhe o outro lugar, ao se sentar passou tão próximo que pude sentir seu perfume, por pouco não entro novamente em devaneios, mas me contive, já um pouco menos intimidado, tomei a liberdade de lhes fazer alguns comentários que foram bem recebidos e até mesmo dos que havia alguma graça, de bom grado me foram brindados com risos, risos aos quais nunca havia visto ela dar...
Nossa viagem transcorreu, avisei-lhe que meu ponto se aproximava, ela disse que o seu seria o próximo logo após o meu, decidi descer no seu ponto e voltar a pé pra casa, ela gostou da idéia.
Quando desci junto a ela, perguntei a direção, seguimos até sua casa, no portão me despedi dela e disse que nos encontraríamos no outro dia no ônibus, com um sorriso ela disse que sim e que guardaria um lugar pra mim ao seu lado.Voltei orgulhoso de mim por ter tido coragem de me aproximar dela, voltei em verdadeira felicidade.
Passei o resto do dia normalmente, a exceção era que volta e meia me pegava pensando nela, adormeci ansioso por ir novamente a aula, para tornar a vê-la.
Acordei de sobressalto achando já estar atrasado, me arrumei apressadamente e saí.
Insuportável foi a demora do ônibus mas enfim ele veio, e eu sabia que dentro dele algo que eu queria muito ver estava, entrei apressado e a procurá-la quase em desespero, enfim avistei-a , ela me indicou o local e me sentei, não podia conter minha satisfação em vê-la, notei que ela mudava ao estar perto de mim , não parecia a garota que eu via na escola, sempre rodeada de outras garotas e cobiçada por todos os garotos, parecia uma pessoa de verdade com sentimentos e vida própria, irradiava uma alegria que me fazia a pessoa mais feliz no universo em estar ao seu lado, logo que descemos do ônibus e caminhamos para a escola ela se fechou e reprimiu um pouco de seu brilho, me intriguei, mas prosegui, logo que avistou suas amigas deixou-me para trás, despediu-se friamente e foi-se...
Novamente a aula demorou a acabar mas enfim acabou, sai e fui surpreendido por ela estar na minha porta , logo que sai ela pegou em minha mão e puxou, me indicou um corredor e puxou-me com força, só pude segui-la, saimos no pátio e fomos em direção ao ponto em desabalada pressa, mal chegamos logo o ônibus veio, entramos e sentamo-nos, novamente ela parecia irradiar luz própria e riu-se do que fez, não quis se explicar quando a interroguei a respeito apenas disse:
__ deixa pra lá!! estou aqui com voçê não estou? então esquece o resto ok?
Disse que tudo bem e me vi obrigado a confessar-lhe minha devoção, resolvi ser-lhe franco, mas como estava quase em pânico, as palavras tardavam a sair de minha boca, de modo que quando vi já estava diante do ponto em que ela desceria, ela foi quem me alertou, descemos e caminhamos, ela segurou minha mão fortemente próximo a sua casa, deteve-me, puxou e colou seus lábios aos meus em um terno e indescritível beijo, que me arrebatou....breves foram aqueles momentos mas que mais me pareceram a eternidade, despediu-se e disse que no outro dia eu entenderia tudo.
Fui novamente pra casa e me debati, quase em loucura total para que o outro dia não tardasse.
Enfim ele chegou, fui ao ponto correndo e esperei impacientemente para que aquele ônibus viesse, não tardou, chegou e eu entrei.Procurei-a novamente e ela não estava, fui até o fundo e não a encontrei, fiquei muito triste, mas a viagem prosseguiu e cheguei a escola, saltei e fui procurá-la, em minha desatenção não notei enquanto estava no ônibus que havia algo errado, os carros à frente do ônibus não se mexiam, olhei de soslaio pois não me interessava o fato, soube apenas que logo cedo havia ocorridoum acidente, pelo menos foi o que ouvi, já que ninguém parecia me notar, não a encontrei, novamente me resignei e fui a aula.Na sala porém estavam todos estranhos me olhavam de maneira que eu não entendia, sentei-me e logo uma funcionária veio até a sala nos avisar que não haveria aula devido ao ocorrido, fiquei indignado e perguntei a ela por que um acidente do lado de fora da escola nos faria perder um dia de aula, minha real intenção era não precisar voltar aquela hora pra casa pois se voltasse não poderia vê-la, a funcionária apenas limitou-se a dizer que a vítima do acidente era um aluno e que a escola se solidarizaria com a família no momento de dor.Contrariado fui pra fora e ouvi que a escola ficaria três dias sem funcionar, fiquei ainda mais bravo pois ficaria três dias sem chance de vê-la, sem opção fui-me embora.Desci em meu ponto habitual e segui para minha casa, lá chegando minha mãe me interrogou sobre o motivo de já estar de volta:
__ o que houve? por que já voltou?
Lhe disse de maneira grosseira.
__ Algum babaca lá da escola conseguiu ser atropelado em frente a escola.
Minha mãe chocada com minha frieza me repreendeu e quis saber detalhes. Lhe respondi apenas que não estava interessado nos problemas alheios, pois tinha os meus próprios pra me preocupar, entrei e me tranquei em meu quarto.Passou-se o restante daquele dia notei que havia um movimento incomum no bairro, mas achei que fosse o pessoal sem ter aula aproveitando pra curtir.Fiquei o resto do dia trancado e somente fui sair do meu quarto na tarde do dia seguinte, quando desci, perguntei a empregada onde minha mãe havia ido, ela me disse que havia ido ao enterro do aluno da minha escola.Disse a ela que não estava interessado no morto, e dei-lhe as costas retornando ao meu quarto, ela disse algo que não entendi mas que não fiz questão de voltar para saber, Silvia se fazia presente em tudo que eu pensava, lembrava daquele beijo maluco, e de sua promessa de me explicar tudo no outro dia.Pensava o por que dela ter se atrasado, no outro dia ela tava lá certinho na hora, por que se atrasou...Fiquei bravo em pensar e adormeci, dormi a tarde toda, e lá pelas nove da noite acordei, notei com certa estranhesa que havia movimento na casa, mas enrolei no quarto para descer, quando a empregada bateu em minha porta eu a atendi ela apenas me disse:
__ sua mãe quer falar com você?
Lembrei-me de perguntar o que ela havia me dito quando lhe perguntei de minha mãe, ela me disse:
__ falei pra você que não era "morto" e sim "morta".
Foi com um certo espanto que recebi essa frase, não entendi bem por que quando ela disse isso, me veio um repentino aperto no peito, uma sensação estranha em meu corpo, achei que fosse fome...
Quando desci encontrei minha mãe toda de preto com uma cara não muito boa e um olhar inquisidor em minha direção, logo foi me interrogando;
__ por que não me disse? surpreso lhe disse:
__ o que eu teria que lhe dizer? ela respondeu:
__ que o "babaca" que tinha morrido era a filha da Sofia?
Sem entender nada, lhe perguntei quem diabos era Sofia e por que eu deveria saber quem era sua filha e que era a sua filha que tinha sido atropelada.
Ela então respondeu, e como eu queria que ela não tivesse respondido.
__ Sofia me disse que por dois dias seguidos você havia levado Silvia até o portão, e que no segundo dia a surpreendeu te beijando na rua...
Tamanha foi minha surpresa que perdi o fôlego e sentei-me no sofá em frente a minha mãe, já com os olhos cheios de lágrimas, balbuciando e gesticulando abracei longamente minha mãe, que apenas pode me amparar sem nada entender, até que depois de um tempo meu choro cessou. Quando me viu de novo restabelecido pediu a empregada que esteve lá todo o tempo em que chorei que me trouxesse um copo com água e que depois nos deixasse sozinhos, a empregada a obedeceu trouxe a água e se retirou, minha mãe com um olhar terno pediu que eu lhe contasse o ocorrido. Receei um pouco, já que raramente tinha algum tipo de conversa séria com minha mãe que muito trabalhava, desde que meu pai havia morrido, mas movido pelo que sentia contei-lhe tudo, tudo que achei que ela devesse saber, pra minha surpresa foi ela quem começou a chorar depois que eu lhe contei tudo, aguardei e dei-lhe o restante de minha água e pedi que me exlicasse o por que do choro, ela então me disse:
__ então era pra você....e soluçou!!! sem entender mas ficando um pouco apreensivo quis saber.
__ pra mim o que? me diz mãe, o que ? então ela me disse:
__ meu filho, quando Silvia foi atropelada ela lia um papel, que foi entregue a mãe dela por pessoas que estavam lá e recolheram logo após o acidente, ela leu e viu que se tratava de uma carta, aparentemente uma carta à um rapaz, mas não trazia um nome, por isso Sofia não sabia a quem entregar. Minha mãe novamente teve que conter o choro, e então lhe perguntei :
__ como não havia nome na carta? minha mãe me disse apenas.
__ ela diz isso na carta filho.
Na carta diz apenas, no seu início onde deveria estar meu nome:"a você que nem ao menos sei o nome, e que em tão pouco tempo fez-me sentir outra pessoa, fez-me sentir viva."
Agora lendo toda a carta me recordo que não lhe disse realmente como me chamava, mas que pelo menos por algumas breves horas sentimos sensações parecidas, somente uma coisa poderia fazer.
Escrevi uma carta e um poema e deixei em seu túmulo, também deixei uma rosa e assinei:


A você que viverá pra sempre em minhas recordações




"Renato"

As pontas dos meus dedos estão gélidas, nenhuma novidade, era de se esperar que estivessem, só retratam o que meu corpo insiste em esconder aos olhos menos atentos, eu morri. Ao menos por dentro, eu morri, minha alma morreu, se é que isso é possível, dizem que almas são eternas e vivem depois que um corpo morre, mas no meu caso é o contrario, o corpo vive com uma alma morta, seria então meu corpo eterno? Espero que não, sinceramente espero que não, não gostaria de ter esse suplício eternamente, mas talvez seja inevitável, sentir para sempre as pontas dos dedos frias como a minha alma morta.Acendo um cigarro, tentado aquecer o resto do corpo com a fumaça morna, enegrecendo meus pulmões enquanto meus olhos se acostumam a escuridão ao meu redor, sim está escuro e eu ainda escrevo, a tela do computador é a única luz, tanto por fora como por dentro, sim tudo em mim escureceu, o cenário ideal para um velório, é ironicamente engraçado estar presente no meu próprio velório, meu cigarro seria minha vela então, uma vela póstuma para um morto que ainda não morreu. Como o destino é sarcástico não, usar algo que vai matar meu corpo para celebrar a morte de uma alma, ainda mais sendo essa a minha alma.Assim sepulto meu falecido espírito nesse monte de carne ao qual chamo corpo, e que estas palavras sejam meu epitáfio, sejam um testemunho póstumo de uma alma que deixou de viver antes de seu próprio dono, e que um dia o meu corpo decida por acompanhar minha alma, e assim não só a ponta dos meus dedos vão estar gélidas, como também meu coração que enfim vai parar de bater.

era arriscar por aquelas veredas e sentia arrastar-se por uma avalanche.
Lá ia escorrendo aquilo que entendia o seu ser mais íntimo.
... e expunha-se ao frio, despindo-se da identificação, tendo os pés congelados de estranhamento naquele solo desconhecido e hostil.
Havia as rotas que traçava entre um instante e outro de sua desatenção...
... não com o que estava em sua órbita, mas daquilo que levava consigo, tão apegado, inerente,
que fluía mesclado ao sopro de vida... Esse aí alimentava, mas as vezes inventava de sufocar como um carrasco, afirmando sua força e só em lapsos permitindo um suspiro leve por conta-sopro, para que apenas suspeitasse um prazer no contraste...

-ó dia! Quanto me faz dar de mim!!!
Disse olhando para o céu!!! Aparentava seus 25 anos. Tinha um rosto gravado pelos maus tratos da vida marginal!
-Que te fiz ó santidade! Fui a ti mal homem? Apresentei colera a vossos desejos? Desdenhei de vossa sapiência? Diga-me, Diga-me, Diga-me, que lhe fiz para merecer tão desegradável vida?
Desempenhei a vida louvar-te! Fui teu defensor por todo meu caminho! Calei a boca daqueles que lhe injuriavam! Salvei vidas! Fui um ótimo pai! Um bom marido!

As lagrimas descem sobre sua face.

-Fiz de mim um carola para dar minha alma a ti.... E assim que me agradeces? Fui tão mais honesto a ti que a mim mesmo! Dei minha vida em tuas mãos, e assim que me retribui!

Em prantos... Sob um dia ameno, sob uma temperatura agradável.... Um sol que dava esplendor ao céu, e cobria-lho de uma lumidade fatidica.

-Faleis, ó santidade, se fui para ti, em qualquer momento, um pulha... Se lhe dei a costa como muitos fizeram.... Clemência, nunca esperei, sim reconhecimento pelo sague e cicatrizes que lhe ofertei, sempre de joelhos e agradecido por dar-me oportunidade de demonstrar minha fé em vossa sapiência.

Olhava ainda mais atonitamente ao céu, procurando encontrar resposta a tamanho infortunio.

-Fala-me porque mereço tal infausto? Fala-me!

Após estas últimas palavras! Levou um tiro na testa e caiu dentro de sua tumba, no cemitério da Boa Viagem!, sem vida com um ar de tristeza nos olhos e de insatisfação por estar frente a morte...

Respondeu-lhe o homem:
-Porque foi um bom moço por toda sua vida!... Enterrem-lô.
Olhou o defunto, beijou seu crucifixo, fez o sinal da cruz e saiu!

Caminhou apressadamente, até que não pudesse prosseguir em função de uma poça.
Havia dias que a chuva não cessava e sentiu-se irritado em ter que sujar seus pés na lama.
Por um instante, viu a lua refletida e sentou-se ali a contemplar com o espírito cheio de leveza.
Não mais se identificava com a ânsia da caminhada.

-Amanhã.

Disse ele ao ver seu único Devedor se aproximar. Sem dar mais explicações saiu todo aborrecido, como se o céu estivesse sob suas costas...

-Só mais um dia.

Gritou-lhe o devedor, já não mais aguentando aquela situação.

Eram amigos em outras épocas, viviam a rir um do outro, a confidenciar-se um com o outro.... Mas a amizade acabou! e acabou por causa de uma dívida de aposta....

Era uma sexta-feira, fria diga-se de passagem, ambos combinaram de se econtrar no bar do seu mané para tomarem uma dose de conhaque e baterem um papo sobre a vida...

Zélino, casado, pai de um filho de dois anos, conhecia Hector desde de moço quando ainda frequentava a escola....

Eram como unha e carne, viviam juntos, iam a todos os cantos juntos.... Chegaram até a desconfiar da amizade.... Zélino, aos seus 25 anos conheceu Linda, uma moça ardente, de uns olhos fulgurante azuis, e d'um ciúme incurável, com quem casou-se após 3 meses de namoro.

Isso foi um pesar para Hector que tinha apenas zélino como amigo nas redomas. Um belo dia quando zélino aparece hector o chama para tomarem algo no bar do mané.... Ficaram até altas horas conversando... falaram sobre a vida, sobre o trabalho, relembraram os velhos tempos de menino...

Zélino despediu-se e marcou para que se encontrassem na outra semana para outro papo...

Depois disso encontravam-se sempre para um papo ou um joguinho de cartas... E foi justamente num joguinho de cartas que a vida de ambos mudaria....

Eles adoravam apostar, certa vez jogando e como o jogo já estava sem graça resolveram apostar, para dar mais animo...

-Então, disse zélino, joguemos apostado.

-Concordo. Nada melhor que apostar para apimentar a mesa.

-Jogaremos Poker Texas Hold, aceita?

-Certamente. Tenho tecnica e sorte neste jogo.

-Faremos então, propôs zélino, aposta negra!

-Aposta Negra?

-Sim Aposta Negra.

-Mas....

-Sem mas Hector. Seja homem ao menos uma vez em sua vida!

-Que seja então.

-Joguemos então....

Calaram-se ambos e começeu a partida mais disputada que já se ouvira falar em um jogo de poker.... Duraram dias jogando... Cada mão era meticulasamente pensada!

Ao fim do terceiro dia de jogo tinha-se um vencedor.... Hector...

-Hector, disse Zélino, parabéns. Vá agora e busque seu premio.

Hector desajeitado tenta contornar...

-Deixa disso Zélino tú é amigo meu....

-Aposta é aposta.

-Então deixemos para amanhã... ademais estou indisposto, jogamos alguns dias... E mal aparentável...

-Que seja então...

Sairam. No outro dia Hector encontra-se com Zélino...

-E então Hector?

-Como vai? Eu um tanto ocupado, mas amanhã certamente que vou!

Hector saiu rapidamente....

Já se tinha passado três dias da aposta.... Zélino encontra novamente Hector...

-Amanhã.

Disse ele ao ver seu único Devedor se aproximar. Sem dar mais explicações saiu todo aborrecido, como se o céu estivesse sob suas costas...

-Só mais um dia.

Gritou-lhe o devedor, já não mais aguentando aquela situação.

-Só mais um dia! Senão aparecer te busco ouviu? E não me faça de tolo... Aposta é aposta...

No outro dia Hector todo receoso encontrou-se com Zélino...

-E então pronto? (perguntou-lhe Zélino)

-Certamente...

-Então vá e acabe com isso.

Hector saiu em busca do prêmio da aposta negra.

-Olá...

Disse Hector ao chegar ao lugar onde receberia o prêmio...

-Quem é o senhor?

-Deram-me esse endereço para que eu viesse receber meu prêmio da aposta negra....

-Que diabos de aposta negra é essa que não estou sabendo...

-Não sabes? conheces o senhor Zélino?

-Sim. Porquê?

-Foi com ele que apostei!

-Mas é aposta negra... Aposta negra é a pior aposta que existe num jogo de cartas... é um duelo, quem perde uma aposta negra perde sua mulher para o outro....

-Mas como?

-Desculpe senhora, até falei para ele esquecer isso... mas ele é cabeça dura!

-Que seja então!

E despiu-se... Hector, embasbacado com a beleza radiante de linda, a toma em seus braço e a beija... Deita-a na cama.... E então começam a fazer amor!

-Não é por isso que ela é a aposta negra, meu caro, disse Zélino. É porque o prazer acompanha a morte....

E dá dois tiros, um em cada cabeça.... Joga então uma rosa negra, simbolo da traição, sob o sangue, saí sorridente e feliz, por estar novamente livre, livre do seu ciúme doentio.....

Lá pelas tantas da noite.

- Que pensas?
- Ora óh rapaz, como se atreve a ter tamanho desrespeito?
-Desrespeito? Com sois tú para dizer de respeito?
- Não me encha com tuas malditosas perversões mentais, nada tenho a lhe dizer... E nem vós a mim. Portanto, não seja tolo a ponto de ficar me aborecendo. Pois, caso o faça....
- Caso o faça o que fará?
Então já saindo tem seu braço segurado pelo homem, alto, robusto, vivaz....
- Deixa-me ir. Não gostaria que esta noite torna se me pior que já está sendo.
- Ora seu pulha!
As palavras quase foram tiradas da boca do homem, pelo soco que levou. Dois de seus dentes frontais cairam perto a uma mesa.
Outros ocupante do bar olharam o ocorrido com temor, e logo ficaram em guarda receando uma briga.
- Olha não gostaria de ter feito-lhe isso. Entretanto existe duas coisas no homem que o impulsionam - disse ele agachado quase encostado ao ouvido do outro - a primeira é a honra, a segunda orgulho. Qualquer homem mata, por quaisquer das duas.
Já ia saindo, quando o outro levantou-se e atingiu-lo na cabeça com uma cadeira de madeira.
- Não seja um cobarde. Enfrenta-me.
- Não poderia nem que quisesse.
- Então matar-te-ei.
- Então o faça.
E homem, ante a inercia do outro, pôs-se a correr.
Ao atravessar a rua deu de frente com um caminhão, que lhe atropelou fatalmente.
Caido ao chão sob seu próprio mar de sangue, chamou o homem com o qual havia brigado. Puxou-o para perto.
- Eu te amo - disse ele.
- Que estória é está ficaste louco?
- Eu te amo.
- Estas todo ferido não durará muito. Quer deixar um ultimo recado a alguém.
- Quero duas coisa: primeiro dizer novamente que só me apresentei aqui por sua causa e por te amar.
O sangue lavou a rua. Já havia muita gente cercando ambos. Saia sangue do ouvido do nariz, do ouvido, da boca.
- Fale! Clamo para que fale, não tardará a morrer pobre homem.
- Antes de morrer tem que saber meu nome.
Ele se espantou. O homem deitado começou a tossir fortemente.
- Chamo-me Athos Fillimann, diga isso a meu filho, diga a ele (hoc hoc) eu te amo.
- Quê?
O homem teve uma convulsão. Então seus olhos ofuscaram.
- Óh! DEUS. Porquê? Porquê? Porquê tamanha tragédia em minha vida?
Todos o olhavam.
Ele um pobre homem que passou a vida a procurar o pai. No dia do encontro, o perde por orgulho...

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