Ele entrou no ambiente. A luz era parca, mas era possível enxergar com muita facilidade qualquer pessoa. Sentou-se, aparentemente, num lugar aleatório, porém sua localização era estratégica, perto de uma viga de sustentação do ambiente. A música era demasiadamente agradável, houve quem dissesse que era propícia ao amor, no entanto era difícil certificar tal informação.

Chamou o garçom. Pediu uma cerveja. Analisou o ambiente e as pessoas que nele estavam, e voltou sua atenção para o pequeno palco onde se encontrava a banda. Deixou-se embriagar pela música, voltando a si apenas quando o garçom tocou-lhe o ombro questionando-o sobre algo da qual não deu a mínima atenção. Seu copo já havia sido preenchido de cerveja pelo garçom, no que só se deu ao trabalho de levá-lo à boca e deixá-lo lá até quase esvaziá-lo. Volveu atenção ao palco. Voltava-se a si apenas quando seu copo ou sua garrafa estavam vazios.

Após algumas horas e muitas cervejas, sentiu a necessidade de ir ao banheiro. Levantou-se, e saiu cuidadosamente andando por entre as pessoas se acumulavam em todo o lugar. Entrou no banheiro. Dirigiu-se à latrina e ficou olhando para o teto pensando na solidão devastadora daquele lugar completamente lotado. Higienizou-se, e saiu do banheiro. Parou a poucos metros da sua mesa e analisou o ambiente. Verificou as horas no relógio de pulso e, de modo instintivo, voltou a andar em direção a sua mesa. Assustou-se quando, ao olhar novamente para frente, chocou-se com uma moça que tomava direção inversa à sua. No segundo que se seguiu perdeu-se em analisar, com muita atenção, aquela mulher com quem houvera chocado o corpo a pouco. Tentou se aproximar dela para se desculpar, mas ela recuou. Ele olhou-a nos olhos e tentou desculpar-se, crendo que ela faria leitura labial. Ela falou algo da qual ele não conseguiu entender, tampouco ler de seus lábios. Só conseguiu ver que ela não usava batom e que tinha olhos castanhos que se escondiam atrás de uma maquiagem preta e delicada.

Nenhum dos dois saiu donde estavam. Entretanto, alguém - ao tentar passar - empurrou-na para os braços dele, no que ele conseguiu sentir um perfume suave e enebriante. Ele não tinha certeza se era perfume, sabonete ou o odor natural dela, mas não quis pensar no assunto.

Ela continuou nos braços dele. A banda começou a tocar um rock romântico. Ele quis dançar, mas não ousou com medo de que ela fosse embora. Deixou as coisas como estavam. Contudo, sem que percebesse começaram a dançar, sem trocar uma única palavra. Quando o guitarrista começou o solo da música ele quis beijá-la, mas para isso teria que tirar a cabeça dela de seu peito.

A música terminou, ela se afastou e saiu. Ele olhou-a ir em direção ao bar, e não a seguiu. Ficou ali parado esperando que ela voltasse para lhe falar, falar que seu coração estava em chamas. Ele, naquele momento, acreditava que sua vida começara ali, naquela coincidência.

Ela não voltou. Ficou no bar. Ele sentou em sua mesa. Um fitava o outro. Um esperava pelo outro. Não havia ninguém que impedisse a coincidência de se tornar uma vida, a não ser eles mesmos.

Alguns se aproximavam dela, mas ela sequer olhava-os. Simplesmente continuava fixada nele, e ele nela. Ela o esperou, ele a esperou. Ela conversou com um rapaz que se aproximou, mas continuava mantendo contado como que chamando-o para tomar aquele lugar. Ele continuou sozinho em sua mesa, apenas pensando nela.

Ela tinha medo, embora sentisse seu coração acelerado. Ele tinha medo. Ela olhou-o, baixou a cabeça, jogou os cabelos para trás e voltou sua atenção para o rapaz; O rapaz aproximou-se para beijá-la, ela deixou-se beijar.

Depois disso, o rapaz falou algo perto do ouvido dela. Ela respondeu. O rapaz aparentou-se confuso e saiu. Ele continuava sentado na mesa, agora com semblante de profunda mágoa. Ela continuava no bar, talvez arrependida. Ela quis levantar, ele levantou-se. Ela sorriu. Ele chamou o garçom, entregou-lhe dinheiro e saiu do lugar. Ela cobriu o rosto. Ele correu pela rua até seu carro. Entrou no carro e lá ficou por alguns minutos. Arrependeu-se e voltou ao lugar. Ele sentou na mesma mesa, procurou por ela. Não a viu. Ela tinha ido embora e levado consigo o coração dele, ele tinha ganhado o coração dela, mas nenhum dos dois tiveram coragem de se arriscar.

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