Olhou para o céu. Seus olhos demonstravam uma tristeza eterna. Uma mágoa para consigo que não poderia ser descrita por aquela feição de desilusão. Suas lagrimas fulgiam a dor que seu coração guardava.

A água salgada abalroava a praia solitária. A luz solar tangia as conchas espalhadas pela areia lisa. O lume fora sugado pelo desejo de companhia daquelas esquecidas peças da natureza.

Muito da morte ali se via. Ainda olhava ao céu, claro de níveas nuvens baixas. O azul dava contraste ao vermelho que sobressaltava dos poros do ser solitário.

Apenas seus passos. Apenas seus passos lhe faziam companhia. O vento lhe tangia a face, à medida que seus passos aceleravam. Aceleravam. Dilaceravam.

- Angel - disse. Mas nada de sua boca saiu. Sequer uma palavra, uma letra. Acelerou, esperando ser consumido por suas palavras, por suas lembranças. A água podia ser sentida por seus pés, fria e adocicada pelo desejo de união.
O céu refletia em seus escuros óculos, que escondiam uns olhos vermelhos, lacrimejantes, circundados por olheiras negras. Nenhuma pena. Nenhuma pena. Pena. Nenhuma pena do que quer que seja.

Sentiu-se oprimir. Todo o externo conspirava com o interno em para sua angústia. Só pode pensar no anjo. Aquele anjo. Único anjo.

Não insista. Devolva-me. Ele dizia a si. Nada, nem ninguém, poderia escutar sua voz silente.

Sem que pudesse perceber o anjo lhe aparece. Vestida em branco, suas asas lhe sopravam um vento à face. O anjo ofereceu-lhe então sua mão. Tudo se tornou ameno. Límpido.

O anjo estava a poucos metros dele. Seus louros traços cativavam. Seus lábios moviam-se pronunciando um canto. Um canto profundo e melancólico. Sua voz aguda e doce oferecia uma paz, uma liberdade indescritível.

Chamou-lhe o anjo. Ele que nunca havia vivido, tocou-lha mão. O anjo, lindo anjo a cantar, carregou sua alma até o céu. Subiram num sublime caminhar. Ele sentiu-se livre. Adquiriu as penas que a tanto buscou. Sentiu as penas de o anjo lhe tocar a pele. A cada toque sentia-se cada vez mais perto do céu.

Enquanto seu corpo caia do precipício, donde sempre estivera, sua alma subia imaculada e soberana ao encontro da paz.

Seus passos eram apagados, um a um, de memória da areia. A água salgada engolia os restos de sua efêmera estada.

Sua alma o doce anjo cuidava. Devolvendo ao solitário homem seu coração manchado de sangue. Apagando suas lembranças e seus amores.

O corpo já vazio era esperado por seu sepulcro. O vento gélido embalsamava-o, retirando dele os resquícios de vida que ali soprava.

Seu corpo se une, enfim, à costa rochosa. O sepulcro abraça-lhe. Um belo canto, o anjo sopra e entoa em sua harmoniosa harpa lírica fazendo acompanhamento assonante de amor ao rito finalista. A alma encontra a paz e corpo encontra o seu amor e o seu único anjo. O anjo da paz. O anjo da morte.

Junto à sua lápide deixou ele os dizeres, produzidos à mão:
(My love, forgive me for loving you forever!!!)

Naquele dia o tempo já não estava propício para sair de casa. Mas nem isso o segurou. Sentia que sempre poderia estar perdendo, ao se "entocar" demais, uma oportunidade, seja no amor nos negócios... em verdade passava ele mais tempo fora que dentro de casa... Pouco tempo dedicava a si mesmo. Gostava mesmo era de saber como estavam os outros, e se pudesse ajudar faria tudo para isso...

Neste dia, neste exato dia, um augúrio lhe dizia algo, da qual não percebeu se era para sair ou não de casa, se não bastasse o mal tempo que se fazia na cidade.

Como ele sempre foi oportunista acreditou que era uma mensagem que aquele era o dia de encontrar um grande amor ou fazer um ótimo negócio...

Que fosse por sorte ou não ele consegui mesmo um bom negócio aquele dia... Ele vendedor de seguros de vida, consegui vender aproximadamente 2000 mil apólices. Nunca alguém havia conseguido tal marca em apenas um dia. Ele mesmo nunca imaginou-se comprando um, achava besteira, dizia sempre:

- Eu não nasci para morrer cedo... E quando for minha hora já estarei mesmo à beira dos meus 100 anos.

Mas sempre lhe dizia uns de seus amigos..

- Para morrer basta estar-se preparado...

(com um ar todo sobrenatural, mas ninguém nunca quis saber o que “preparado” queria na realidade dizer)

Mas no final todos que o conheciam sabiam do seu pavor pela morte. Naquele dia para sua surpresa ao sair, via de passagem felicíssimo por seu sucesso no trabalho, do serviço, já se faziam oito horas da noite, ele ao contrário do costume foi com seus amigos a um lugar aconchegante da cidade para curti o dia de sorte que teve.... Foi como que um susto, ao entrar no ambiente viu, sentada à mesa, uma mulher, deslumbrante, vestida vermelho, não pode segurar-se... Sentiu-se incontrolavelmente atraído por ela... Foi então que decidiu falar com ela... Pediu a si um Martine e ofereceu-se a pagar a mulher uma bebida... Ela aceitou...

- Qual vosso nome?
Perguntou ele sem pestanejar...

- Chamo-me Aurora...
Falou ela abrindo um lindo e delicado sorriso.

Ele pode sentir ao ouvir aquela doce voz que o mundo é demasiado pequeno para o sentimento que o consumia.

- Você não me parece estranho «disse ela» creio já ter visto-vos. Como que se algo em mim me desse a impressão que temos uma ligação...

Ele se sobressaltou... Não esperava tanta química num primeiro encontro. Ele não soube responder-lhe. Ficou a olhá-la, como que se fosse um diamante altamente valioso e ele um joalheiro.

- Acreditas em amor a primeira vista? «perguntou ela, com um lacônico sorriso no rosto» Não me entenda mal, mas algo me diz que estou presa a ti ainda que possa ser muito estranho.

- Acredito «disse ele, quase que instantaneamente» acredito demasiadamente. Se nele não cresse talvez não viesse falar contigo agora. «ele não podia acreditar no que estava presenciando»

Conversaram, depois daquele estranhável começo, por horas e horas... Os amigos dele já haviam ido a tempos e ele perdido nas palavras de aurora nem viu o tempo passar. Quando deram por si a madrugada já floria e a lua já estava a adormecer para dar lugar ao sol. Saíram, pois o bar já estava a ponto de ser fechado... Decidiram andar a pé um pouco e aproveitar o lume de lua que ainda sublimava toda as paisagens daquela cidade campestre.

Sentaram-se num banco de madeira velha, ainda molhado pela chuva, que ficava numa praça toda povoada por arvores das mais distintas espécies. Haviam postes de luz na praça, um dos quais ficava justamente sobre o banco do qual estavam sentados. Um vento gélido soprava do horizonte dando um ar romântico a cena dos dois.

- Veja. (disse-lhe ela, apontando para o horizonte onde a lua sob um lume forte e argênteo aparentava um brilho esplendido. Lua esta que estava circundada por vários anéis de N's cores)
- O quê? (perguntou ele). Ela só não pode ser mais linda que vois.

Ela sorriu e ruborizou-se no mesmo momento. Os olhos se cruzaram e então ele a beijou. Perderam-se no tempo e no espaço. Pareciam que tudo estava perdido no único momento... Quando reabriram os olhos... O sol já havia aparecido, o arrebol estava maravilhoso e cativante. De mãos dadas saíram.

- Este dia foi o mais perfeito de meus anos de vida «ao dizer teve um flash, no qual ouviu seu amigo lhe dizer, - para se morrer basta estar preparado - e parecia a ele que estava mesmo preparado, mas deu de ombros» nunca fui tão feliz.

Ela sorriu e eles caminharam, sobre o chão ainda molhado.

- Tudo que é perfeito, maduro, deve morrer.«e retirou de uma arvore uma maça e deu a ela, com o qual ela agradeceu»
- O mundo poderia ser um dia ensolarado de amor «disse-lhe ela»
- E de intensidade eterna «completou ele»

Passaram por alguns comércios que já começavam a se abrir... Pararam alguns segundos para ver o nascer do sol... e saíram...

Foi quando despediram-se...

- Um último beijo? «pediu ela»
ele arrepiou-se todo...

-todos do mundo «respondeu ele»

Então beijaram-se... Em meio a luz solar que lhes dava um sabor de glamour.

E com um ultimo abraço e toques de mãos. Abandonaram-se.
Quando ela já havia virado a rua lembrou-se que não sabia o nome do tal fulano... Tal havia sido teu encantamento que não precisou dele.

Ele dirigiu-se a sua casa e ela a dela. Onde deitaram e dormiram e não acordaram jamais.

E sempre lhe recorriam este sonho, cada qual em seu sepulcro, após já há dez anos... Do dia em que ambos mataram-se, por amor... Envenenados, cada qual deitado em sua cama.

Dezessete anos apenas...essa é minha idade, sou jovem: bem, é o que dizem; mas sei que minha idade cronológica nessa existência não me é muito relevante, apenas sigo minha indubitável e imutável rotina...acordo, me arrumo e faço minhas servis atividades de bom moço....
Preciso de algo novo pra fazer, num belo dia resolvi mudar minha rotina, depois de acordar, tomar café, fui como de costume a minha escola.Lá chegando, tomei coragem e fui procurar Silvia, minha primeira paixão; alguns diriam que tardia, mas enumero-a como minha primeira pois ela foi a primeira por quem realmente tive algum verdadeiro interesse.Quando enfim cheguei próximo a ela disse:
__ oi Silvia tudo bem?
Ela me olhou de soslaio como se me visse pela primeira vez, e com um desinteresse mal disfarçado me respondeu:
__ oi!!! tudo...
Tendo minha expectativa inicial sufocada, lembrei-lhe quem eu era, disse -lhe que eu era o rapaz que sentava ao seu lado no ônibus; ela um pouco sem jeito me disse:
__ ah sim! você é o garoto quieto, que sempre esta lendo algo e ouvindo música...
__ Como se chama?
Minha respiração, se tornou ainda mais apressada, ela já havia me notado, o que eu diria a ela? minha apreensão me deixou sem fala, mas a sineta do início da aula me trouxe de volta ao mundo real.... ela se despediu e disse que teria que entrar na sua sala.
Me despedi com muita dificuldade, nauseado com o ocorrido.
Ela saiu em direção ao outro andar, onde era sua sala e eu fiquei a contempla-la se afastar, dando uns risinhos com suas amigas.
Segui seu exemplo e também fui a minha.
Como demorou para aquelas aulas terminarem, mas enfim tiveram seu término.Logo após ter tocado o último sinal, que nos liberava para irmos embora, corri apressadamente para o corredor, com um olhar atônito a busca-la, sem êxito; cabisbaixo me resignei e segui em direção a saída, tamanha foi minha surpresa ao me deparar com ela logo no portão, com seus materiais na mão e o cabelo que outrora esteve preso agora soltos a caírem sobre seus ombros a emoldurar tão bela e expressiva face, me olhou e riu, veio ao meu encontro e disse:
__ achei que já estivesse ido!!! talvez sua aula estivesse acabado mais cedo.
Um pouco surpreso lhe respondi que não.Tamanha foi minha surpresa que travei, fiquei plantado a encará-la, vislumbrando-a, ela, dessa vez foi quem me trouxe à tona, disse que já ia e pedi para acompanhá-la, ela disse que tudo bem.Seguimos rua abaixo conversando, ou melhor eu invariavelmente concordando ou discordando com meus simples monossílabos, chegamos ao ponto de ônibus. Continuamos próximos, ela já um pouco sem jeito por minha tamanha timidez, eu quase a ponto de ter uma parada cardíaca por estar pela primeira vez em minha vida diante de situação parecida, foi quando nosso ônibus chegou, ao entrar dei-lhe a preferência por embarcar primeiro, pra minha sorte haviam dois lugares vagos, sentei e ofereci-lhe o outro lugar, ao se sentar passou tão próximo que pude sentir seu perfume, por pouco não entro novamente em devaneios, mas me contive, já um pouco menos intimidado, tomei a liberdade de lhes fazer alguns comentários que foram bem recebidos e até mesmo dos que havia alguma graça, de bom grado me foram brindados com risos, risos aos quais nunca havia visto ela dar...
Nossa viagem transcorreu, avisei-lhe que meu ponto se aproximava, ela disse que o seu seria o próximo logo após o meu, decidi descer no seu ponto e voltar a pé pra casa, ela gostou da idéia.
Quando desci junto a ela, perguntei a direção, seguimos até sua casa, no portão me despedi dela e disse que nos encontraríamos no outro dia no ônibus, com um sorriso ela disse que sim e que guardaria um lugar pra mim ao seu lado.Voltei orgulhoso de mim por ter tido coragem de me aproximar dela, voltei em verdadeira felicidade.
Passei o resto do dia normalmente, a exceção era que volta e meia me pegava pensando nela, adormeci ansioso por ir novamente a aula, para tornar a vê-la.
Acordei de sobressalto achando já estar atrasado, me arrumei apressadamente e saí.
Insuportável foi a demora do ônibus mas enfim ele veio, e eu sabia que dentro dele algo que eu queria muito ver estava, entrei apressado e a procurá-la quase em desespero, enfim avistei-a , ela me indicou o local e me sentei, não podia conter minha satisfação em vê-la, notei que ela mudava ao estar perto de mim , não parecia a garota que eu via na escola, sempre rodeada de outras garotas e cobiçada por todos os garotos, parecia uma pessoa de verdade com sentimentos e vida própria, irradiava uma alegria que me fazia a pessoa mais feliz no universo em estar ao seu lado, logo que descemos do ônibus e caminhamos para a escola ela se fechou e reprimiu um pouco de seu brilho, me intriguei, mas prosegui, logo que avistou suas amigas deixou-me para trás, despediu-se friamente e foi-se...
Novamente a aula demorou a acabar mas enfim acabou, sai e fui surpreendido por ela estar na minha porta , logo que sai ela pegou em minha mão e puxou, me indicou um corredor e puxou-me com força, só pude segui-la, saimos no pátio e fomos em direção ao ponto em desabalada pressa, mal chegamos logo o ônibus veio, entramos e sentamo-nos, novamente ela parecia irradiar luz própria e riu-se do que fez, não quis se explicar quando a interroguei a respeito apenas disse:
__ deixa pra lá!! estou aqui com voçê não estou? então esquece o resto ok?
Disse que tudo bem e me vi obrigado a confessar-lhe minha devoção, resolvi ser-lhe franco, mas como estava quase em pânico, as palavras tardavam a sair de minha boca, de modo que quando vi já estava diante do ponto em que ela desceria, ela foi quem me alertou, descemos e caminhamos, ela segurou minha mão fortemente próximo a sua casa, deteve-me, puxou e colou seus lábios aos meus em um terno e indescritível beijo, que me arrebatou....breves foram aqueles momentos mas que mais me pareceram a eternidade, despediu-se e disse que no outro dia eu entenderia tudo.
Fui novamente pra casa e me debati, quase em loucura total para que o outro dia não tardasse.
Enfim ele chegou, fui ao ponto correndo e esperei impacientemente para que aquele ônibus viesse, não tardou, chegou e eu entrei.Procurei-a novamente e ela não estava, fui até o fundo e não a encontrei, fiquei muito triste, mas a viagem prosseguiu e cheguei a escola, saltei e fui procurá-la, em minha desatenção não notei enquanto estava no ônibus que havia algo errado, os carros à frente do ônibus não se mexiam, olhei de soslaio pois não me interessava o fato, soube apenas que logo cedo havia ocorridoum acidente, pelo menos foi o que ouvi, já que ninguém parecia me notar, não a encontrei, novamente me resignei e fui a aula.Na sala porém estavam todos estranhos me olhavam de maneira que eu não entendia, sentei-me e logo uma funcionária veio até a sala nos avisar que não haveria aula devido ao ocorrido, fiquei indignado e perguntei a ela por que um acidente do lado de fora da escola nos faria perder um dia de aula, minha real intenção era não precisar voltar aquela hora pra casa pois se voltasse não poderia vê-la, a funcionária apenas limitou-se a dizer que a vítima do acidente era um aluno e que a escola se solidarizaria com a família no momento de dor.Contrariado fui pra fora e ouvi que a escola ficaria três dias sem funcionar, fiquei ainda mais bravo pois ficaria três dias sem chance de vê-la, sem opção fui-me embora.Desci em meu ponto habitual e segui para minha casa, lá chegando minha mãe me interrogou sobre o motivo de já estar de volta:
__ o que houve? por que já voltou?
Lhe disse de maneira grosseira.
__ Algum babaca lá da escola conseguiu ser atropelado em frente a escola.
Minha mãe chocada com minha frieza me repreendeu e quis saber detalhes. Lhe respondi apenas que não estava interessado nos problemas alheios, pois tinha os meus próprios pra me preocupar, entrei e me tranquei em meu quarto.Passou-se o restante daquele dia notei que havia um movimento incomum no bairro, mas achei que fosse o pessoal sem ter aula aproveitando pra curtir.Fiquei o resto do dia trancado e somente fui sair do meu quarto na tarde do dia seguinte, quando desci, perguntei a empregada onde minha mãe havia ido, ela me disse que havia ido ao enterro do aluno da minha escola.Disse a ela que não estava interessado no morto, e dei-lhe as costas retornando ao meu quarto, ela disse algo que não entendi mas que não fiz questão de voltar para saber, Silvia se fazia presente em tudo que eu pensava, lembrava daquele beijo maluco, e de sua promessa de me explicar tudo no outro dia.Pensava o por que dela ter se atrasado, no outro dia ela tava lá certinho na hora, por que se atrasou...Fiquei bravo em pensar e adormeci, dormi a tarde toda, e lá pelas nove da noite acordei, notei com certa estranhesa que havia movimento na casa, mas enrolei no quarto para descer, quando a empregada bateu em minha porta eu a atendi ela apenas me disse:
__ sua mãe quer falar com você?
Lembrei-me de perguntar o que ela havia me dito quando lhe perguntei de minha mãe, ela me disse:
__ falei pra você que não era "morto" e sim "morta".
Foi com um certo espanto que recebi essa frase, não entendi bem por que quando ela disse isso, me veio um repentino aperto no peito, uma sensação estranha em meu corpo, achei que fosse fome...
Quando desci encontrei minha mãe toda de preto com uma cara não muito boa e um olhar inquisidor em minha direção, logo foi me interrogando;
__ por que não me disse? surpreso lhe disse:
__ o que eu teria que lhe dizer? ela respondeu:
__ que o "babaca" que tinha morrido era a filha da Sofia?
Sem entender nada, lhe perguntei quem diabos era Sofia e por que eu deveria saber quem era sua filha e que era a sua filha que tinha sido atropelada.
Ela então respondeu, e como eu queria que ela não tivesse respondido.
__ Sofia me disse que por dois dias seguidos você havia levado Silvia até o portão, e que no segundo dia a surpreendeu te beijando na rua...
Tamanha foi minha surpresa que perdi o fôlego e sentei-me no sofá em frente a minha mãe, já com os olhos cheios de lágrimas, balbuciando e gesticulando abracei longamente minha mãe, que apenas pode me amparar sem nada entender, até que depois de um tempo meu choro cessou. Quando me viu de novo restabelecido pediu a empregada que esteve lá todo o tempo em que chorei que me trouxesse um copo com água e que depois nos deixasse sozinhos, a empregada a obedeceu trouxe a água e se retirou, minha mãe com um olhar terno pediu que eu lhe contasse o ocorrido. Receei um pouco, já que raramente tinha algum tipo de conversa séria com minha mãe que muito trabalhava, desde que meu pai havia morrido, mas movido pelo que sentia contei-lhe tudo, tudo que achei que ela devesse saber, pra minha surpresa foi ela quem começou a chorar depois que eu lhe contei tudo, aguardei e dei-lhe o restante de minha água e pedi que me exlicasse o por que do choro, ela então me disse:
__ então era pra você....e soluçou!!! sem entender mas ficando um pouco apreensivo quis saber.
__ pra mim o que? me diz mãe, o que ? então ela me disse:
__ meu filho, quando Silvia foi atropelada ela lia um papel, que foi entregue a mãe dela por pessoas que estavam lá e recolheram logo após o acidente, ela leu e viu que se tratava de uma carta, aparentemente uma carta à um rapaz, mas não trazia um nome, por isso Sofia não sabia a quem entregar. Minha mãe novamente teve que conter o choro, e então lhe perguntei :
__ como não havia nome na carta? minha mãe me disse apenas.
__ ela diz isso na carta filho.
Na carta diz apenas, no seu início onde deveria estar meu nome:"a você que nem ao menos sei o nome, e que em tão pouco tempo fez-me sentir outra pessoa, fez-me sentir viva."
Agora lendo toda a carta me recordo que não lhe disse realmente como me chamava, mas que pelo menos por algumas breves horas sentimos sensações parecidas, somente uma coisa poderia fazer.
Escrevi uma carta e um poema e deixei em seu túmulo, também deixei uma rosa e assinei:


A você que viverá pra sempre em minhas recordações




"Renato"

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