Silêncio! Ausento-me por um momento, entro e fecho a porta, sento-me na sala deste mundo que é meu, que invento, que decoro como as letras de uma canção que ainda não escrevi. Silêncio, feito de palavras que te escrevo, como diretrizes, um mapa secreto, que só tu sabes ler, para me encontrares, para te perderes.

Silêncio! Silêncio! Silêncio...

Silêncio, que os tijolos deste muro são de tempo. E o tempo alveja-me com silêncio e com palavras que socorrem perdidas flores de pensamentos esquecidos.

Silêncio, apenas faça silêncio. Só me olhe e me veja! Nesse silêncio profundo, onde os pássaros cantam, o vento sopra, as vozes cantam, os passos marcam... Hei estar introspectivo, esquecendo-me de esquecer do silêncio solitário e bondoso que tanto desejei.

Silêncio! É nele onde grito, onde ouço, onde falo, onde... onde... onde... O silêncio completa.

Silêncio! A madrugada desperta o dia, acorda-o do meio da Noite, o horizonte ganha forma sobre uma linha que separa o céu da terra. As nuvens ganham tons de cinza, restos do fogo que se prepara para surgir sob a forma de uma estrela incandescente.

Silêncio! A manhã surge, em múltiplas cores, sobre o firmamento pálido de um novo dia. O ar fresco envolve as plantas que dormentes, se agitam, na brisa. As montanhas descobrem-se por entre mantos de neblina, que rasgam com as suas pontas afiladas.

Silêncio! Pássaros batem asas, mergulhando no azul claro do dia, reinventando a gravidade, numa cadência tranqüila, como se estivessem pendurados por fios de coco. Deslizam, cortando o ar, penteando as penas, olhando a vida duma perspectiva divina.

Silêncio! A vida recomeça, agita-se em convulsões dramáticas do quotidiano, num mundo vazio de sonhos, cheio de falsos ideais de perfeição. As gentes falam sem se ouvir, pensam sem existir, numa amalgama de carbono contorcido.

Silêncio! Silêncio que é onze de julho. Onze notas caídas Lá, chegavam a dar Dó. Onze é hibridez dos dedos... Saliva curta! Uma escuridão soturna, mas gritavam.

- Ora, ora! Não poderia ser mais apropriada essa luz escura e essa escuridão suavemente clara. Negra luz onde as ondas dilatadoras passam sem sequer pedir licença...
- Isso é o verdadeiro silêncio.
- Como pode, meu caro, a isto chamar silêncio?
- Abra-te os ouvidos e sinta as ondas badalarem em seu tímpano, pois só dessa forma conseguira ouvir o silêncio barulhento, qual ouço.

Sentaram-se, então, nas gramíneas da região, numa distância razoável. As luzes, os flash, as palmas e as rodas eram silenciosas. Uma tela magnífica sofás na direita com pessoas sem rostos sentadas, em longos e sorridentes “papos”. Mendigo ao chão sem imagem. Poesias no alto, como nuvens. Rostos pintados, sem feições. Discursos e ideologias. Poetas e poesias. Um palco. Um microfone. Uns ruídos. Um onze e julho. Esse era o verdadeiro silêncio. Um ritual mágico.

- Ainda ouve?
- Só o silêncio, só o silêncio.

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