Era uma longa e pomposa noite. O marido e a esposa chegam em casa dirigem-se ao aposento e deitam-se na cama. O dia foi formidável. O varão fez tudo para agradar sua esposa. Foram ao melhor restaurante da cidade. Deu flores e dedicou uma romântica música à amada que os violinistas tocaram docemente enquanto o marido entregava uma jóia à mulher.

Quando chegaram em seu aposento, ambos deitados na cama o marido começou:

- Não farei amor contigo, antes saber tudo sobre você.
- Não quer fazar amor? Querido, como não quer?
- Sinto que temos muito o que conversar. Quero saber dos seus anseios, seus objetivos, seus projetos, enfim, quero que me conte sobre você.
- Por quê isso?
- Olha amor, sei que depois de muitos anos os casais tendem a esquecer as necessidades um do outro e não quero isso pra nós, por isso quero ouvir-te, como faziamos quando nos aventurávamos pelo mundo, lembra-se?
- Amor, eu te amo e isso é o que basta. Quero que saiba que tudo o que tenho feito e que farei, desde que seja ao seu lado, é o que importa.
- Bem, você precisa me falar. Eu quero estar sempre perto de você, quero sentir o que você sente. Quero ouvir o que você pensa, pois você é o que vale a pena na minha vida e sem você minha vida não seria nada.
- Tudo bem, querido, já que deseja saber eu falarei. Eu sempre quis viajar o mundo. O primeiro ponto seria veneza, a cidade do amor. Quero escrever um livro e pintar quadros.
- Continue, meu amor.
- Velejar pelo pacífico. Escalar os alpes. Nadar nua no mar morto. Visitar a torre de pisa. Ah! eu quero tudo o que a vida pode proporcionar.
- Amor, tantos anos juntos e você nunca me disse que tinha tudo isso em mente.
- É, mas você nunca se importou em perguntar.
- É verdade, o tempo vai passando e nós vamos perdendo o entusiasmo. As coisas parecem perder a vida, mas isso não acontecerá conosco. Amo-te, querida, e por isso farei tudo para que realize cada desejo seu.
- Oh! meu amor, como eu te amo. Eu já sou muito feliz com tudo o que tenho, pois tenho você ao meu lado.
- Mas isso não é suficiente. Quero que sua vida seja completa.

Então abraçaram-se, beijaram-se e fizeram amor como nunca haviam feito antes. A noite passou sem que os amantes notassem. Era a segunda lua-de-mel. E o amor foi intenso, durando uma eternindade dentro das poucas horas.

O marido, depois de fazer amor, sentou-se na cama e continuou a prosa.

- Agradeço, a cada segundo, por ter você meu amor. Você é a mulher mais linda e fantástica que existe na terra. Eu não...

Antes de a frase ser terminada ela acordou. O marido roncava intensamente. Então ela começou a pensar no sonho que tivera e como gostaria que sua vida fosse magnífica como a do sonho.

Levantou-se foi até a janela do quarto, olhou o céu e continuou a pensar no sonho que tivera. Sua vida não tinha nenhum romântismo. Seu marido, depois de alguns anos já não saia. Eles não iam a restaurantes. Ela não sabia o que era receber um presente. Os beijos eram frios. Deitou-se e não conseguiu durmir. Passou a noite a pensar no maravilhoso sonho que tivera.

Quando já perto das seis da manhã o marido acorda.

- Ei, não durmiu não? Tá pensado que é de ferro?
- Eu não consegui durmir. Perdi o sono.
- Vá ao médico então se tratar.
- Talvez eu faça isso.
- Preciso trabalhar. Pega minha roupa que vou tomar um banho.
- Claro.
- E não esquece de preparar o café.
- Claro.

O marido foi ao banheiro, quando voltou a mulher ainda estava sentada na cama. Não tinha arrumado a roupa, tampouco feito café.

- Cadê minha roupa?
- Que roupa?
- Quer saber, esquece! Deixa que eu mesmo arrumo minhas coisas. Você, ultimamente, não tem prestado pra nada mesmo.
- Eu nunca presto não é? Eu sempre trancada nesta casa. Sempre à sua disposição e sou a imprestável.
- Que mais você queria? Um castelo só para você? Se não está feliz...

Antes de a frase ser terminada ela acordou. O marido alisava seus cabelos. Havia um mar lindo à frente. Uma brisa leve tocava sua face e a fazia sentir-se muito melhor do que jamais esteve, mas começou a pensar nos dois sonhos que tivera antes. Começou a pensar se aquilo tinha mesmo sido um sonho.

- Querida, vamos caminhar um pouco? A brisa está muito boa para ficarmos aqui. E depois pederíamos ir até a outra ponta da praia onde há as melhores dunas do universo.
- Claro, meu bem.
- Há algo errado, meu amor? Não está satisfeita com a nossa estada nesta praia?
- Não, paixão, está tudo ótimo. Vamos andar, vamos.
- Tem certeza? Se não estiver gostando poderemos sair daqui agora.
- Estou adorando, meu amor. Adorando.
- Está certo. Dê sua...

Antes de a frase ser terminada ela acordou. O marido havia sumido. Ela estava na cozinha. A água da pia estava aberta e em uma das mãos havia a esponja consumida de sabão e na outra uma louça recém enxaguada. Começou a se preocupar. Perguntou-se o que lhe estava acontecendo, mas não sabia. Os sonhos eram tão reais, que já se perguntava se estava realmente acordada. Enquanto terminava de lavar a louça, ficou a pensar sobre os seus sonhos.

Saiu da cozinha e sentou-se na sala, afim de descansar, já que suas mãos ardiam. Perdeu-se por alguns minutos no sofá, quando o marido chegou.

- Cheguei. O que fez para a janta?
- Desculpe, não estou bem disposta.
- E sou eu quem deve pagar por isso? Se tivesse me avisado eu teria comido fo..

Antes de a palavra ser terminada ela acordou. O marido estava apontando para a torre Eifhel. Ela estava assustada, tudo aquilo era recente demais para ela e estava começando a pensar que estava maluca. Pediu para que o marido levá-la aos aposentos, pois precisava deitar-se. Dizia estar enjoada.

Deitou-se e durmiu. Sonhou que estava numa fazenda, muito longe da cidade. A fazenda tinha umas montanhas ao seu redor. Havia, também, uma cachoeira a poucos metros.

- Foi isso que sonhei pra nós. Uma vida calma e pacata.
- Querido, onde estamos?
- Como onde estamos? Estamos na nossa fazenda.
- Que fazenda?
- Ora, a fazenda que compramos depois que resolvemos deixar a cida...

Antes de a palavra ser terminada ela acordou e acordou de todos os sonhos. Estava senil. Lembrou-se dos sonhos. Os sonhos eram parte dos projetos de vida feitos na juventude e a vida real que a mulher havia tido. E ela viveu ambos, um em sonho e o outro na infeliz realidade da vida cotidiana.

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