As pontas dos meus dedos estão gélidas, nenhuma novidade, era de se esperar que estivessem, só retratam o que meu corpo insiste em esconder aos olhos menos atentos, eu morri. Ao menos por dentro, eu morri, minha alma morreu, se é que isso é possível, dizem que almas são eternas e vivem depois que um corpo morre, mas no meu caso é o contrario, o corpo vive com uma alma morta, seria então meu corpo eterno? Espero que não, sinceramente espero que não, não gostaria de ter esse suplício eternamente, mas talvez seja inevitável, sentir para sempre as pontas dos dedos frias como a minha alma morta.Acendo um cigarro, tentado aquecer o resto do corpo com a fumaça morna, enegrecendo meus pulmões enquanto meus olhos se acostumam a escuridão ao meu redor, sim está escuro e eu ainda escrevo, a tela do computador é a única luz, tanto por fora como por dentro, sim tudo em mim escureceu, o cenário ideal para um velório, é ironicamente engraçado estar presente no meu próprio velório, meu cigarro seria minha vela então, uma vela póstuma para um morto que ainda não morreu. Como o destino é sarcástico não, usar algo que vai matar meu corpo para celebrar a morte de uma alma, ainda mais sendo essa a minha alma.Assim sepulto meu falecido espírito nesse monte de carne ao qual chamo corpo, e que estas palavras sejam meu epitáfio, sejam um testemunho póstumo de uma alma que deixou de viver antes de seu próprio dono, e que um dia o meu corpo decida por acompanhar minha alma, e assim não só a ponta dos meus dedos vão estar gélidas, como também meu coração que enfim vai parar de bater.

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